Na edição especial do Dia dos Pais, conversamos com Antônio Adolfo e Carol Saboya, dois ícones da música brasileira que, além de compartilhar o amor pela música, compartilham também laços familiares. Antônio, renomado músico e compositor, e sua filha Carol, uma das vozes mais marcantes da Bossa Nova, abriram seus corações para falar sobre suas carreiras, a escola de música que dirigem juntos e a influência do sindicato em suas vidas. Confira a seguir como a música tem sido um elo poderoso entre gerações nesta família talentosa.

**Entrevistadora:** Antônio, você e sua família têm uma relação muito especial com a música. Como você vê a influência da música na sua relação com a Carol e os demais membros da sua família?

**Antônio Adolfo:** "Essa relação de pai e filha com a música, tudo junto, só pode ser algo maravilhoso. É muito especial, aproxima bastante. Aliás, aqui é uma relação muito grande, não só com as filhas, mas também com a esposa; todos estão na música, incluindo as netas agora. A Carol está lançando um disco por conta própria; ela decidiu gravar a música com uma letra minha. Eu só participei depois que tudo estava gravado, contribuindo com duas ou três músicas tocadas no piano elétrico. Ela gravou as músicas no piano e é uma felicidade imensa ver a filha envolvida com a minha música."

**Entrevistadora:** Antônio, vocês têm uma escola de música que já existe há muitos anos. Como foi o início dessa escola e qual é a importância dela para você?

**Antônio Adolfo:** "A escola de música também é uma coisa de família. Começamos em 1985, então, no próximo ano, vamos completar 40 anos. Foi uma experiência muito legal, que surgiu a partir das necessidades das pessoas. Como músicos profissionais, sabemos o que pode ajudar alguém a se aprofundar na música, e é isso que temos feito durante todo esse tempo. É uma questão de família também; nossas filhas começaram na música através da escola e agora nossas netas também. Isso é extremamente rico. A formação de profissionais que conseguimos também nos traz muita alegria, mas não se trata apenas da formação de profissionais. Sentimos que a música é importante para todos. Qualquer pessoa que goste de música deve se sentir enriquecida por ela, pois, como dizia o Caymmi, 'quem não gosta de música, um bom sujeito não é'." *[Antônio dá uma pequena risada]*

**Entrevistadora:** Antônio, qual é a importância do Sindicato dos Músicos do Rio de Janeiro para você?

**Antônio Adolfo:** "O sindicato é de uma importância muito grande para o músico profissional. Eu sempre estive muito ligado ao sindicato. Desde os anos 70, principalmente, eu me juntei muito ao sindicato. Inclusive, criamos até uma cooperativa de músicos que era ligada ao sindicato também. Participei de muitas reuniões. Embora nunca tenha tido tempo ou chance de integrar alguma diretoria, sempre apoiei as reuniões e as diretorias anteriores. Agora, nosso querido Teo Lima é um grande amigo, e admiro muito o trabalho que ele tem feito. É fundamental que os músicos tenham a consciência de que o sindicato não é uma coisa ultrapassada ou do passado. O sindicato é uma entidade de enorme importância para que os músicos se organizem melhor. Acredito que todos deveriam participar; deveria ser obrigatório, mas fizeram tudo para afastar os músicos do sindicato. No entanto, temos que fortalecer o sindicato, porque ele é quem realmente dá força aos profissionais da música. E eu sou super ligado ao sindicato."

**Entrevistadora:** Antônio, você tem se mantido muito ativo musicalmente? Quais são seus projetos atuais?

**Antônio Adolfo:** "Olha, os projetos continuam firmes. Nos últimos 10 anos, tenho lançado um disco a cada ano, o que tem me dado muita força, inclusive no exterior. Minha música tem sido muito bem recebida, e meus discos têm sido bem recebidos. Eu tenho feito poucos shows, até por causa das condições atuais para realizar apresentações. E aí vem novamente a importância de valorizar o músico. É crucial, para que os músicos se sintam estimulados e sejam bem remunerados pelas suas apresentações. Como tenho um grupo grande, geralmente me apresento com oito músicos, o que torna cada vez mais difícil fazer shows. Mas sempre damos um jeito, fazemos uma coisinha aqui, outra ali, tocamos com alguém em outro show, participamos de eventos. A música não pode parar, e eu também não."

**Entrevistadora:** Carol, como foi a influência do seu pai na sua escolha pela música e como essa relação impactou sua carreira?

**Carol Saboya:** "Bom, a relação de pai para filha e de filha para pai é muito especial. Sempre admirei meu pai tanto como músico quanto como pessoa. Desde pequena, em casa, era natural para mim ver partituras, assistir aos ensaios e vê-lo fazendo arranjos para algum artista, além da presença desses artistas em casa. Eu o acompanhava nos shows e ele me chamava para gravar coros infantis quando produzia alguém que precisava. Essa era a vida natural da minha infância. Apesar disso, eu poderia ter seguido outro caminho, mas sempre fui influenciada, embora sem pressão. Acabei indo para as artes, fiz balé e teatro, mas chegou um momento em que a música falou mais alto, e, com certeza, meu pai me influenciou."

**Entrevistadora:** Como foi crescer em uma escola de música?

**Carol Saboya:** "A escola nasceu em 1985, quando eu tinha 10 anos, e cresci lá. Para mim, é um ambiente onde cresci também como profissional, pois me tornei professora, e já faz quase 30 anos que dou aula. Muitas pessoas já passaram por lá, muitos artistas que hoje estão no mercado, outros que não, mas que continuam tocando e cantando. É muito bonito ver isso, há muitas crianças e adolescentes. A escola é um porto seguro para uma carreira que é muito difícil. Ser artista, conseguir shows, sustentar-se como músico ou cantora, fazendo o que gosto sem abrir mão. Sempre foi assim. A escola é como o quintal de casa. Somos uma família; eu, minha irmã, meu pai e minha mãe. Sempre foi assim, e sempre resolvemos tudo juntos."

**Entrevistadora:** Quais são os seus projetos mais recentes?

**Carol Saboya:** "Atualmente, acabei de lançar meu 14º álbum, chamado 'Outro Tom', com músicas do meu pai. É um projeto que venho trabalhando há um ano, em homenagem aos 60 anos de carreira dele e aos meus 25 anos de carreira. Revisitei o repertório de 72 a 80, álbuns que ele produziu independentemente, com canções cantadas por artistas como Emílio Santiago, Joyce, Silvio César e pelo meu próprio pai. Resolvi trazer essas canções para os dias de hoje com a ajuda do Guto Wirtti, que fez a produção e os arranjos, mantendo um sabor dos anos 70, mas atualizando para os dias atuais. Esse é um presente de Dia dos Pais para ele. Além disso, estou dirigindo musicalmente peças de teatro, como 'Peter Pan', que estreia em outubro, com minhas músicas autorais e um elenco lindo de jovens. Tenho muitas aulas e estou trabalhando com o grupo Olho Samba Jazz, mais focado em Bossa Nova. Vamos nos apresentar no Blue Note agora, no dia 21 de agosto. Enfim, muitas coisas acontecendo, o que está sendo muito bom."